Angola é predominantemente rural, com 91,5% de unidades territoriais rurais (INE, 2016) e uma intensidade de pobreza que atinge 48,9% da população (INE, 2020). As ações de desenvolvimento humano e de justiça social, embora iniciadas em 2004 com o primeiro ciclo de Estratégias de Combate à Pobreza, têm sido lentas e marcadas por explicações simplificadoras, como as crises económicas e a descida do preço do petróleo, que ignoram a complexidade política, económica, sociodemográfica e cultural do problema.
Entre 1999 e 2018, Angola registou um crescimento económico notável, com o PIB a aumentar cerca de 1.344%, atingindo um pico de 145,7 mil milhões de dólares em 2014. No entanto, este crescimento conjuntural, e não estrutural, coincidiu paradoxalmente com o aumento da pobreza. Reconhecendo este cenário de desigualdades e desafios, a QABO prioriza a produção de conhecimento rigoroso para fundamentar políticas públicas mais eficazes e ajustadas às dinâmicas locais de exclusão e pobreza, com forte compromisso ético e relevância prática.
Assim, todas as linhas de investigação priorizam a qualidade metodológica, a ética da pesquisa e a relevância prática dos resultados para as comunidades e instituições parceiras:
• Troika Epistémica: Pobrezas, Exclusão e Desigualdades Sociais
Esta linha aborda as diferentes manifestações de pobreza e exclusão social em Angola, analisando os fatores estruturais e contextuais que perpetuam as desigualdades. Foca-se nas interseções entre sexo, idade, emprego, rendimento, escolaridade e condições socioeconómicas, proporcionando uma visão abrangente das vulnerabilidades que afetam as populações.
• Condição de Agente e o Papel das Cooperativas Agrícolas
Explora os mecanismos e iniciativas das comunidades agrícolas, com ênfase nas cooperativas agrícolas como instrumentos para fortalecer o protagonismo dos agricultores, reconhecer as vitalidade das culturas locais e otimizar os resultados das suas atividades. O objetivo é promover o desenvolvimento económico e social, quebrando ciclos de pobreza e de desigualdade intergeracionais.
• Dinâmicas Sociais e Impacto das Indústrias Extrativas
Focada nas regiões do leste e norte de Angola, esta linha investiga os impactos sociais, culturais e ambientais das atividades de extração diamantífera e petrolífera nas comunidades em que se inserem as indústrias. Através de abordagens etnográficas e socioeconómicas, visa fornecer subsídios para práticas mais inclusivas e sustentáveis, alinhadas com as necessidades das comunidades locais no combate à pobreza e a exclusão social.
• Educação, Paridade e Alteridade nas Comunidades Angolanas
Com enfoque na inclusão e justiça social, esta linha analisa as disparidades no acesso à educação e as condições infraestruturais que agravam as desigualdades sociais e a pobreza em Angola. Investiga as relações entre sexo, localização geográfica, níveis de instrução e mobilidade social, tendo como objetivo contribuir para o desenvolvimento multidimensional e sustentável do país.