Descobertas Desfocadas

O título desta notícia reflete a expressão usada pelo cientista angolano João Milando para manifestar a sua indignação, partilhada num grupo de WhatsApp dedicado a discutir os desafios, partilhar produções científicas e analisar a legislação sobre educação e ensino em Angola. A sua crítica, tal como sempre nos habitou, incidiu sobretudo sobre a escassa ou ausente relevância atribuída aos estudos acerca da prosperidade, pobreza e riqueza de várias nações.

As reações de Milando surgiram na sequência do anúncio do Prémio Sveriges Riksbank em Ciências Económicas, atribuído pela Academia Real das Ciências da Suécia aos cientistas Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson, para o ano de 2024.

A QAB, embora partilhe parte da reflexão levantada por João Milando, especialmente no que toca ao desvio do foco e à conveniência de certos estudos, felicita os premiados e encoraja-os a prosseguir em novas e relevantes descobertas. A questão que Milando levantou, nos dias 15 e 19 de outubro, em relação ao mainstream do “The Nobel Prize” foi clara e provocadora, da qual passamos a citar:

“Algo de estranho se passa com os prémios Nobel de economia: fingem ignorar o facto de os problemas económicos das nações serem apenas uma das expressões do egoísmo tornado reitor da vida moderna. Danem-se, todos esses prémios Nobel, que não conseguem resolver os problemas económicos de quem empobrece por causa das avarias daqueles que têm dificuldades em amar o próximo! Dane-se também quem perde tempo com as suas teorias que “muito abarcam, mas pouco apertam”… 

Dois grandes cientistas, ilustres e respeitáveis economistas, acabam de ganhar o Prémio Nobel de Economia do corrente ano. Qual foi a sua contribuição? Olharam para o mundo e “descobriram” porque uns países são ricos e outros pobres! Grande “descoberta”!

Com demasiada frequência, a ciência moderna, os cientistas respondem acertadamente à perguntas sem pertinência nenhuma. Isso provoca avarias no avanço do conhecimento. Desvia as atenções para questões inúteis e periféricas. Ainda há dúvidas sobre o porquê de uns países serem ricos e outros pobres? É preciso estudar economia para obter resposta a esta pergunta?

 Em muitos aspetos, a ciência moderna vem sendo sequestrada pela política. A atribuição dos prémios Nobel parece fazer parte de agendas de certos grupos poderosos que condicionam frequentemente o sentido das pesquisas científicas no mundo. Fabricam modas que mais atrapalham do que ajudam. Precisamos de estar mais atentos. O resto fica subentendido…” (fim de citação)

A crítica de João Milando incita-nos a questionar as agendas que moldam a atribuição de prémios como o Nobel e a reconsiderar a pertinência das investigações que, em muitos casos, falham em abordar diretamente os problemas mais prementes da humanidade, como as desigualdades sociais e as pobrezas.

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