Muito DINHEIRO em circulação. Que impactos?

Hoje, nas primeiras horas da manhã, recebemos esta imagem com a legenda do título deste post, enviada por uma especialista portuguesa em desigualdades sociais, pobreza, exclusão e bem-estar social, doutorada em Sociologia.

Para uma reflexão matinal num dia cinzento, considerámos pertinente complementar a pergunta com outras duas questões cruciais, ampliando o debate e os ganchos analíticos:

De Robert Williams (Império Português aos fragmentos irlandeses) a Biden (Império do G7, dominado em 63% pelos EUA), passaram-se 118 anos. O que permanece inalterado?

Quem e o que circulará pelos vagões? Serão escoados, vendidos e exportados, para além dos recursos minerais, os produtos de pequenos camponeses desprotegidos? Ou continuaremos a assistir à prosperidade dos negócios de políticos influentes? Veja-se o exemplo do Grupo Carrinho, que, em tempo recorde, tal como as galinhas de Isabel dos Santos que “cagavam” ovos dourados, tornou-se numa espécie de Arca de Noé: abrange tudo e detém tudo. Portanto, nem todas as empresas, projetos e iniciativas dispõem das mesmas oportunidades por falta de capital social.

Por outro lado, embora ainda seja cedo para avaliar os impactos — especialmente para Angola, que se apresenta como protagonista e crente na recuperação do Corredor do Lobito (CL) —, há um padrão evidente nos passos e atos do governo angolano: a cultura da “fraca transparência e da omnipresença”.

Depois de uma longa discussão, chegámos a um contorno analítico: talvez seja útil focar-nos empiricamente nas regiões abrangidas pelo programa. Em termos de impactos sociais, um dos pontos mais sensíveis é o reassentamento das populações. Para evitar atrasos processuais, os governantes têm recorrido às lideranças municipais, oferecendo 500€ por família para antecipar deslocações, com a intermediação e gestão de sobas. Este mecanismo, embora pragmático, permite contornar requisitos fundamentais como a instalação de serviços públicos básicos.

É inegável que o projeto do Corredor do Lobito suscita questões pertinentes para análises empíricas e cria espaços para a formulação de projetos de investigação. Contudo, a prudência metodológica é essencial. Continuamos a questionar até que ponto este projeto poderá promover o reassentamento das populações, em particular na região leste, dada a experiência recorrente do governo. As populações locais continuam a enfrentar grandes esforços para sobreviver, tal como acontece nas regiões de exploração de madeira, diamantes e petróleo, sem usufruírem dos benefícios substantivos destas atividades. Um exemplo paradigmático é o Campus de Malongo, em Cabinda, onde, após terem sido afastadas, as populações voltaram a deslocar-se para zonas próximas.

Há, de facto, oportunidades significativas para investigação nestas dinâmicas. No entanto, ignorar as lógicas e especificidades culturais destas regiões, assumindo que projetos como o CL ou a exploração petrolífera os tornam automaticamente “felizardos e sortudos”, pode até gerar resistência ou conspiração contra os próprios projetos.

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